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terça-feira, 30 de abril de 2013

Saber viver é viver sem pressas

Saber viver é seguir sem pressas,
é ultrapassar barreiras.
É caminhar em frente mas não á frente,
seguir lado a lado contigo e sem ti.

E se no início houver obstáculos,
mesmo assim eu continuo.
De cabeça erguida e mente aberta,
abro caminho ao que está por vir.

Desenho no mapa os trilhos que quero percorrer,
liberdade que me aprisiona.
Faço de cada fim um recomeço.
de cada dia um novo amanhecer.(VM)





A Espantosa Realidade das Cousas - Alberto Caeiro

A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. Naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa




 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O dia vai, a noite vem

O dia vai, a noite vem,
o sol vem, a noite vai.
E eu permaneço aqui,
em silêncio, na escuridão.

Tudo se agita, tudo acontece
e eu do lado de cá.
Do lado do espectador,
que vê o lado de lá.

Existo mas não insisto,
leio as páginas deste livro,
linhas que alguém escreveu,
vida que alguém sonhou.(VM)

Esperança - Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...



domingo, 28 de abril de 2013

Mário Quintana

"Não deixe de fazer algo por falta de tempo. Não deixe de ter alguém ao seu lado, ou de fazer algo por puro medo de ser feliz. A unica falta que será, será desse tempo que infelizmente não voltará mais."
 
 

“Eu Escrevi um Poema Triste”- Mário Quintana

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
 
 

sábado, 27 de abril de 2013

Vento que já não sopra igual...

Digo que sim quando o que eu queria era dizer não.
As palavras voam quando o que eu queria era o silêncio.
Flutuam ao sabor do vento,
livres e soltas como bolas de sabão.

Sento-me aqui à espera,
que o vento que soprou outrora
volte a soprar em mim
e traga de novo a Primavera.

Vento que já não sopra igual,
sol que já não irradia a mesma luz.
Na vida nada permanece, nada esquece,
força misteriosa que nos conduz.(VM)

A gente se acostuma - Mário Quintana


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Sei que não posso partir nem ficar...

Sei que não posso partir nem ficar,
não posso ir nem voltar.
Labirinto de sensações,
caminhos que nunca se cruzam.

Mas talvez possa navegar,
naquelas ondas, naquele mar.
Mergulho da luz à escuridão,
no mais fundo que á em mim.(VM)


Podemos ser sem sentido...

Podemos não ser aquilo que gostaríamos,
podemos não ser aquilo que os outros gostariam,
mas podemos tentar ser aquilo que nos faz bem,
podemos tentar ser aquilo que nos engrandece a alma.

Podemos ser sem sentido,
podemos ser sem destino.

Olhamos para a multidão,
observamos as vidas a passar.
Vidas que se cruzam sem se tocar,
seres que são aquilo que são.

Devemos ser aquilo que somos,
devemos percorrer o caminho que escolhemos...(VM)

Passagem da Noite - Carlos Drummond de Andrade

É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.

Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos.
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!





quinta-feira, 25 de abril de 2013

Manuel Alegre

ABRIL DE ABRIL
Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
 
 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pseudónimos vs Nomes verdadeiros

Pseudónimo: Pablo Neruda
Nome Verdadeiro: Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto

O poeta chileno resolveu adoptar o pseudônimo Pablo Neruda em homenagem ao escritor checo Jan Nepomuk Neruda.
Posteriormente, o escritor conseguiu na justiça a modificação de seu nome para o pseudónimo que usou durante toda a sua vida.







Pseudónimo: Miguel Torga
Nome Verdadeiro: Adolfo Correia da Rocha

Miguel Torga foi um dos maiores escritores portugueses do século passado. O pseudónimo famoso foi criado aos 27 anos. O “Miguel” é uma deferência aos escritores espanhóis Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. O “Torga”, por sua vez, é uma planta brava da montanha, que nasce sobre as rochas.




Pseudónimo: Voltaire
Nome Verdadeiro: François Marie Arouet

Voltaire foi um dos maiores pensadores iluministas. Passou a história pelas críticas que fez aos regimes absolutistas europeus, bem como pelas duras críticas à Igreja Católica.
Um dos maiores críticos de toda história da Igreja Católica, o escritor, por ironia do destino (ou desejo de sua família), foi enterrado na Abadia de Scellieres.
Após a Revolução Francesa, contudo, seu corpo foi levado para o Panteão de Paris, onde permanece até hoje.


Curiosidades sobre escritores

Machado de Assis era míope, gago e sofria de epilepsia. Enquanto escrevia Memórias Póstumas de Brás Cubas, foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, com complicações para sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de descanso em Nova Friburgo. Sem poder ler nem redigir, ditou grande parte do romance para a esposa, Carolina (Carolina Augusta Xavier de Novaes).
Graciliano Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica.

Cecília Meireles, numa das viagens a Portugal, marcou um encontro com o poeta Fernando Pessoa no café A Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o "furo": Fernando Pessoa tinha lido seu horóscopo pela manhã e concluído que não era um bom dia para o encontro.

terça-feira, 23 de abril de 2013

O Outro Amor da Vida Dele - Dorothy Koomson

Dorothy Koomson - www.wook.pt
Estou aqui mas não me vejo,
sinto-me sem me sentir.
Deito-me sem sonhos,
levanto-me sem ilusões.
 
Espero-te sem te esperar,
quero-te sem te querer.
Abro os braços e vislumbro o teu abraço,
mas já não existe aconchego.
 
Pode-se rir sem expressão,
chorar sem sentimento,
mas amar só com coração. (VM)

Estou Cansado, é claro - Álvaro de Campos


Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...

E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente: eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto me dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ariane - Miguel Torga


Florbela Espanca

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!



A vida é feita de marcas...

Olho para o céu e não consigo distinguir as estrelas,
olho para os dias e não consigo distinguir vida neles.
Olho para o rio e não consigo distinguir as gotas que o compõem,
olho para o meu coração e não consigo distinguir os sentimentos.

Olhar sem ver,
observar sem alcançar a beleza do que se vê.
Viver sem sentir,
caminhar pelos dias sem deixar a nossa marca.

A vida é feita de marcas,
rastos daquilo que existiu um dia...(VM)

domingo, 21 de abril de 2013

Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio - Ricardo Reis

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa


 

Sequência

Dia após dia,
semana após semana,
alegria após alegria,
tristeza após tristeza.
Desilusão após desilusão,
surpresa após surpresa.

Vida após vida,
como as páginas de um livro.
Palavra após palavra,
linha após linha,
página após página.

Assim tudo segue o seu rumo,
sequência de momentos,
e momentos sem sequência...(VM)

TIMIDEZ- Cecilia Meireles

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

sábado, 20 de abril de 2013

O outro lado...

Sigo pelo avesso da vida,
vou na direcção do que há de vir,
mas é no que já fui que fiquei perdida.

Atravesso o rio do meu destino,
mas foi na outra margem que me deixei.
Continuo lado a lado comigo e sem mim,
dois estranhos que não se reconhecem.

Só o que já foi faz sentido,
o que passou, o que ficou pra trás...
O futuro que ficou no passado.
O avesso que se torna o lado certo da vida.(VM)









The happy sun is shining - Fernando Pessoa

The happy sun is shining
The fields are green and gay,
But my poor heart is pining
For something far away.
It`s pining just for you,
It`s pining for thy kiss.
It does not matter if you're true
To this.
What matter is just you.

I now the sea is beaming
Under the summer sun.
I know the waves are gleaming,
Each one and every one.
But I am far from you,
And so far from your kiss!
And that`s all I get that's really true
In this.
What matters is just you.

Oh, yes, the sky is splendid,
So blue as it now,
The air and light are blended,
Oh yes, hot, anyhow,

Nothing of this is you
I'm absent from your kiss,
That`s all I get that`s sad and true
In this
What matter is just you.



Alberto Caeiro - Não Sei Quantas Almas Tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A imensidão

Tudo é imenso,
 imenso mar, imenso céu,
imenso deserto, imenso oásis.
A imensidão é imensa...

A grandeza que nos transcende é imensa.
É no avesso da vida que nos encontramos,
a outra margem, o lado de lá.
É sempre o outro lado que nos atrai,
o que não temos, o que não conseguimos ter.

Assim como a moeda tem dois lados,
a lua duas faces, o rio duas margens...(VM)


ANTÓNIO GEDEÃO

Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.



quinta-feira, 18 de abril de 2013

Deixo a minha mente vaguear sem destino,
sem sentido, sem fim, sem recomeço...
Como ondas livres e obstinadas,
ondas de liberdade, de leveza, de sentimento.

É fim de tarde, tudo é calmo e colorido,
depois da azafama, do rebuliço,
tudo entra nos eixos,
cai o pano e tudo ganha outro sentido.

Faz-se silêncio, apagam-se as luzes,
os actores saem de cena.
Mas a cena assim como a vida, não se apagam.
Amanhã tudo recomeça...(VM)


quarta-feira, 17 de abril de 2013

As mais belas bibliotecas universitárias


Mais um dia...
Apesar da incerteza do amanhã continuamos a deixar escapar o hoje. Focamos todas as nossas energias a planear o que vamos fazer a seguir, a pensar em como poderemos  ser felizes quando acontecer isto ou aquilo... Onde ir, o que comprar, o que dizer, o que sentir... E hoje??? o que será do amanhã se não vivermos hoje? Seremos felizes no futuro se olharmos para trás e não houver lembranças que nos façam sorrir?! Um dia alguém disse "o amanhã pode ser longe demais".(VM)

A espantosa realidade das coisas - Alberto Caeiro

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais, naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.


Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

terça-feira, 16 de abril de 2013

E assim passa um e outro,
depois outro e ainda mais um.

Uns com ar simples e despreocupado,
outros sisudos e melancólicos.
 
Uns cheios de vida,
outros com a vida cheia.
 
Uns que vêem mais além,
outros que além nada vêem.
 
Uns com uma luz brilhante,
outros cujo brilho já se apagou.(VM)



David Mourão-Ferreira

Canção amarga
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
--- Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.
Agora, tu só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.
Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
--- Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!
 
 
 

domingo, 14 de abril de 2013

Sinto-me cansada, um cansaço que me corrói, que me consome.
Sinto que tudo à minha volta segue o seu rumo.
Todos, até a pequena criança, seguem o seu objectivo,
correm atrás daquilo que mais desejam e tudo parece tão fácil, tão determinado.
Mas para mim tudo é diferente,
tudo é lento, pesado, angustiante...
Vivo num mundo à parte,
como duas estradas paralelas que seguem juntas a imensidão da vida mas nunca se cruzam.
Assim somos o resto do mundo e eu...(VM)

Exemplo de luta pelos sonhos

Quando começa a anoitecer , o estacionamento do Aeroporto Internacional de G'Bessi começa a encher de estudantes, eles se agrupam ali todas as noites , por ser o Aeroporto, um dos únicos locais onde eles podem contar com uma luz artificial e com isso conseguir estudar.

Somente 5% da população de Guiné-Conacri, na África conta com Eletricidade, e mesmo esse pouco sofre com cortes de eletricidade freqüentes. Segundo dados das Nações Unidas em média um Guiniense consome 89 kilowatts por hora ao ano. Isto é o equivalente a ter um ar condicionado ligado durante 4 minutos por dia. O americano médio consome cerca de 158 vezes esta quantidade.

Os estudantes começam a chegar no final da tarde para conseguirem os melhores lugares para estudar, que são aqueles locais que ficam diretamente abaixo de um dos 12 postes de iluminação do estacionamento

Alguns destes estudantes caminham mais de uma hora para chegar a este local.
Os locais são definidos por idade. Os alunos dos sete aos nove anos de idade sentam-se em alguns pontos que separam o transito, enquanto que os adolescentes se sentam nos pilares de cimento que rodeiam o lugar à volta do aeroporto. As garotas têm de ser acompanhadas por um irmão mais velho ou algum homem do sexo masculino de confiança. Mesmo as crianças menores são autorizadas a estar na rua até altas horas da madrugada. Aqueles que moram mais longe procuram luz nas bombas de gasolina outros no exterior das casas de famílias abastadas. Estes alunos consideram-se, ainda assim, uns sortudos.
Ali Mara, dez anos, estudava o diagrama do corpo de um inseto e disse: "Os meus pais não se preocupam comigo porque sabem que estou aqui à procura do meu futuro."
 

 

O que é o sonho?

Ilusão que criamos, anseio de viver outras vidas que não a nossa...
Necessidade de nos mantermos numa realidade paralela, onde tudo é possível...
Dizem que o sonho comanda a vida, mas será que  vida suporta o sonho?
A beleza do sonho está na possibilidade de este se tornar real, ou na certeza de que não passa de uma ilusão?(VM)

sábado, 13 de abril de 2013

Biblioteca Estadual de Victoria, Melbourne, Austrália

A Biblioteca Estadual de Victoria foi fundada em 1854 e detém mais de 1,5 milhões de livros. A peça central da biblioteca é a Sala de Leitura LaTrobe, um espaço octogonal com capacidade para mais de 1 milhão de livros e 500 pesquisadores ou leitores. Na ocasião da conclusão, a Sala de Leitura LaTrobe foi a maior cúpula do mundo.

António Gedeão - Impressão Digital

 
 Os meus olhos soo uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros^ com outros olhos,
não veem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns veem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns veem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

O mostrengo - Fernando Pessoa


terça-feira, 9 de abril de 2013

"Sem ilusões, vivemos apenas do sonho, que é a ilusão de quem não pode ter ilusões. Vivendo de nós próprios, diminuímo-nos, porque o homem completo é o homem que se ignora. Sem fé, não temos esperança, e sem esperança não temos propriamente vida. Não tendo uma ideia do futuro, também não temos uma ideia de hoje, porque o hoje, para o homem de acção, não é senão um prólogo do futuro. A energia para lutar nasceu morta connosco, porque nós nascemos sem o entusiasmo da luta." Livro do Desassossego


A palavra impossível - Adolfo Casais Monteiro


Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim 
A vida que não se troca por palavras. 
Deram-mo para eu guardar dentro de mim 
As vozes que só em mim são verdadeiras. 
Deram-mo para eu guardar dentro de mim 
A impossível palavra da verdade. 

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível, 
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível, 
Para eu guardar dentro de mim, 
Para eu ignorar dentro de mim 
A única palavra sem disfarce - 
A Palavra que nunca se profere. 

 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A noite está escura como nunca a vi antes...
Uma escuridão profunda e densa,
cheia de  histórias já vividas e
outras que estão só á espera de uma oportunidade para se tornarem reais.
Apesar da escuridão as estrelas continuam lá, brilhantes...
Cada estrela que brilha no firmamento não é uma simples estrela,
São milhões de oportunidades á espera de uma vida que as acolha.(VM)


Esculturas em Livros

 Luciana Frigerio transforma livros em esculturas. Usando obras recicladas, ela dobra, corta e brinca com com cada página, formando letras sempre no estilo de fonte Times ou helvética. Cada livro se torna uma obra de arte com mensagens de amor, letras de música ou palavras de inspiração.


sábado, 6 de abril de 2013

Estou de facto aqui ou sou uma ilusão,
caminho pelo deserto dos meus sentidos.
Atravesso montanhas de felicidade, planícies de tristeza,
florestas de angústia, rios de sonho...
Enfim, eis que surge de repente aquele oásis tão desejado,
mas mais uma vez será realidade ou ilusão,
será mais uma miragem que surge no deserto da minha vida,
da tua vida, da nossa vida... (VM)

Sabedoria - José Régio


Lágrimas Ocultas (Florbela Espanca)

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sophia de Mello Breyner Andresen - Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.


Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.


Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.


Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de mello breyner andresen
mar novo 1958

Sentirmo-nos sós no meio da multidão é um lugar comum.
Percorrer a estrada da vida, viver vidas alheias passando ao lado da nossa própria vida.
Sensação de estar sem estar...
Como um balão que flutua livre, leve e solto, mas não tem para onde ir.
Viagem sem destino,
Labirinto interminável sem saída à vista...(VM)