sexta-feira, 31 de maio de 2013

Cada passo uma esperança

Estou a correr para a meta,
cada passo que dou mais longe ela me parece.
Estou a correr para onde quero estar,
lá longe, do outro lado da escuridão.

Cada passo uma esperança,
cada destino uma viagem.
Cada arco-íris uma lembrança,
cada estrela uma mensagem.

Se não encontras o rumo,
abre os braços e inspira.
Se a tua vida não tem cor,
pinta tu a tua dor.(VM)


terça-feira, 28 de maio de 2013

Sol de Inverno

Sou como as folhas de Outono,
vivo de estações.
Sou como as flores da Primavera,
vivo de emoções.

Sou como o sol de Inverno,
que a tua alma aquece.
Sou como a chuva de Verão,
forte e determinada, que nunca esmorece.(VM)






As palavras - Eugénio de Andrade

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



domingo, 26 de maio de 2013

Encontros e perdas....

Se é naquela estrela que te encontro,
também será no seu brilho que te vou perder.

Se é ao anoitecer que te encontro,
também será na madrugada que te vou perder.

É no mesmo instante em que te encontro que te começo a perder,
a cada segundo, a cada minuto.

A cada encontro uma perda,
a cada perda uma nova vontade de encontrar. (VM)


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - Luis de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Amor é fogo que arde sem se ver - Luis de camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?



sexta-feira, 24 de maio de 2013

Eugénio de Andrade

Quando se esgotam as linhas das mãos
 
Quando se esgotam as linhas das mãos que apertam as nossas, fazemos das estrelas o papel dos nossos sonhos e tomamos para nós a amargura dos lábios que se apertam por falta de beijos;

nascem flores que nos cansam os olhos com a vida que insistem em trazer;
 
cantam pássaros que já não incendeiam mais que as cinzas dos cigarros que já fumámos
 
 as árvores só cheiram às madrugadas de insónia
 
até os rios se esquecem do lugar da foz
 
estamos e não somos
 
 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Palavra que é dita não volta atrás

Palavra que é dita não volta atrás,
é lançada ao vento e flutua...
Rodopia na brisa do sentir
e segue o caminho que lhe foi destinado.

Quando falamos o destino muda,
a cada palavra, a cada frase.
Linhas que se entrelinham,
raio de sol em dia de chuva.(VM)






Tu já me arrumaste - Isabel Meyrelles

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começámos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo,
tu és ainda o meu relógio de vento,
a minha máquina aceleradora de sangue,
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?
 
 

REINVENÇÃO - Cecilia Meireles

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

É possível viver o impossível

Vivo num labirinto e não encontro a saída,
percorro o trilho da minha alma,
espreito pela janela do meu coração,
vejo o mundo com os olhos do meu sentir.

Fecho os olhos e surge o sonho,
realidade só minha.
Voo com os pássaros,
agarro as estrelas,
danço nas ondas do mar.

Se realidade é viver o possível,
então eu vou continuar, ainda que em sonhos, a viver o impossível...(VM)



terça-feira, 21 de maio de 2013

José Gomes Ferreira

Acordai!
Acordai, homens que dormis
A embalar a dor
Dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raíz!


Acordai!
Acordai, raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações...


Acordai!
Acendei, de almas e de sóis,
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais.


ACORDAI!

Sinto falta mas não sei de quê...

Sinto falta mas não sei de quê,
tenho saudades mas não sei de quem.
Vivo uma vida que ninguém vê,
fico à espera de alguém que não vem.

Escrevo estas linhas que ninguém lê,
páginas de uma vida esquecida.
Palavras para dizer não sei bem o quê,
historia que ninguém viveu. (VM)




Noite de Saudade - Florbela Espanca

A noite vem pousando devagar
Sobre a terra que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu ouço a noite a soluçar!
E eu ouço soluçar a noite escura!

Por que é assim tão ´scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu nem sei donde me vem...
Talvez de ti, ó noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!





domingo, 19 de maio de 2013

Se a rosa não fosse flor o que seria?!

Olho para aquele jardim,
os meus olhos dançam,
balançam de flor em flor,
rodopiam de cor em cor.

Se a rosa não fosse flor o que seria,
se o sol não fosse calor o que seria.

Olho para aquele céu,
os meus olhos dançam,
balançam de estrela em estrela,
rodopiam de esplendor em esplendor.

Se o sonho não fosse voar o que seria,
se o amor não fosse dor o que seria. (VM)

Povo que lavas no rio - Pedro Homem de Mello

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.

Fui ter à mesa redonda
Bebi em malga que me esconde
O beijo de mão em mão.
Era o vinho que me deste
A água pura, puro agreste
Mas a tua vida não.

Aromas de luz e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição.
Povo, povo, eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida não.

Povo que lavas no rio
E talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.
 
 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Voltei a sonhar o sonho já sonhado

Se sonhar é criar expectativas,
criar expectativas também é sonhar.
Para mergulhar é preciso dar o salto,
se demos o salto é porque quisemos mergulhar.

Voltei a sonhar o sonho já sonhado,
voltei a esperar o já esperado.

Se ao caminhar tropeçar e cair,
a mesma estrada eu vou seguir.
Faço do fim um recomeço,
da meta um obrjectivo a atingir.(VM)





Impressão Digital - António Gedeão

Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
nao vêem escolhos nenhuns.


Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.


Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!


Inutil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.


Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Urgentemente - Eugénio de Andrade

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.


É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.


Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.


terça-feira, 14 de maio de 2013

Canção do dia de sempre - Mário Quintana

Tão bom viver dia a dia…
A vida assim, jamais cansa…

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu…

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência… esperança…

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas…

Lancei um papagaio de papel...

Lancei um papagaio de papel,
e fiquei a vê-lo voar.
Lancei o meu nome ao vento,
e fiquei a ouvi-lo ecoar.

Lancei o meu rumo ao mar,
e vi-o perder-se no infinito até naufragar.
Sem direcção, sem sentido,
Bússula que perdeu o norte.

Não tenho para onde ir,
mas também não quero ficar.
Perdi a vontade de sorrir,
mas também não quero chorar.(VM)



Vaidosa - Cesário Verde

                                                Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.
 
Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.
 
Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.
 
E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.
 
Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loira e doirada como as messes,
E possuis muito amor... muito amor próprio.




domingo, 12 de maio de 2013

Canta Onde Nada Existe - Fernando Pessoa


Canta onde nada existe
O rouxinol para seu bem (?),
Ouço-o, cismo, fico triste
E a minha tristeza também (?)

Janela aberta, para onde
Campos de não haver são
O onde a dríade se esconde
Sem ser imaginação.

Quem me dera que a poesia
Fosse mais do que a escrever !
Canta agora a cotovia
Sem se lembrar de viver...



sábado, 11 de maio de 2013

Deve chamar-se tristeza - Fernando Pessoa




Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.
Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.
 
 

 

Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste

"(...)Floresce alto na solidão nocturna um candeeiro incógnito por detrás de uma janela. Tudo mais na cidade que vejo está escuro, salvo onde reflexos frouxos da luz das ruas sobem vagamente e fazem aqui e ali pairar um luar inverso, muito pálido. Na negrura da noite, a própria casaria destaca pouco, entre si, as suas diversas cores, ou tons de cores: só diferenças vagas, dir-se-ia abstractas, irregularizam o conjunto atropelado.
Um fio invisível me liga ao dono anónimo do candeeiro. Não é a comum circunstância de estarmos ambos acordados: não há nisso uma reciprocidade possível, pois, estando eu à janela no escuro, ele nunca poderia ver-me. E outra coisa, minha só, que se prende um pouco com a sensação de isolamento, que participa da noite e do silêncio, que escolhe aquele candeeiro para ponto de apoio porque é o único ponto de apoio que há. Parece que é por ele estar aceso que a noite é tão escura. Parece que é por eu estar desperto, sonhando na treva, que ele está alumiando.

Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo. Sinto que eu não existiria, nesta hora - que não existiria, ao menos, do modo em que estou existindo, com esta consciência presente de mim, que por ser consciência e presente é neste momento inteiramente eu -, se aquele candeeiro não estivesse aceso além, algures, farol não indicando nada num falso privilégio de altura. Sinto isto porque não sinto nada. Penso isto porque isto é nada. Nada, nada, parte da noite e do silêncio e do que com eles eu sou de nulo, de negativo, de intervalar, espaço entre mim e mim, coisa esquecimento de qualquer deus...(...)" (Livro do desassossego)
 

Chuva de estrelas

A chuva cai, gota a gota,
como diamantes livres.
Dilúvio de safiras e esmeraldas,
Tempestade de pedras preciosas.

Tesouro de lágrimas,
choro de princesas,
perdidas em castelos de ouro,
deixadas em claustros de prata.



sexta-feira, 10 de maio de 2013

Porque não agarramos as nuvens...

Se aquela nuvem ali no céu,
fosse feita de algodão,
então eu poderia pegar nela
e tocar-lhe com a minha mão.

Se aquela estrela ali no céu
fosse feita de ilusão,
então eu poderia pegar nela
e guarda-la no coração.

Porque não agarramos as nuvens,
porque não tocamos o céu...

Liberdade - Fernando Pessoa

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,

Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...



 



quinta-feira, 9 de maio de 2013

A tristeza espreita em todas as ruas onde eu moro...

A tristeza espreita em todas as ruas onde eu moro,
calma, silenciosa ela espera pelo momento certo.
Se eu a procuro ela disfarça,
se eu fujo ela me persegue.

Naquelas mesmas ruas mora também a alegria,
não à espreita nem escondida,
ela brilha e faz questão que todos a vejam,
mas só a sentem aqueles que ousam olhar o infinito.
A alegria não está nos passos que damos,
mas na forma como caminhamos.

O segredo não está em mudar de caminho e sim mudar o caminho.(VM)



quarta-feira, 8 de maio de 2013

A eternidade balança nas ondas do mar...

A eternidade balança nas ondas do mar,
navega lado a lado com a imensidão.
E é nas profundezas que surge a solidão,
que se esconde onde menos se espera encontrar.

No mar e na vida tudo se pode perder,
dia após dia, maré após maré.
Como uma garrafa que se atira,
com palavras que se quer esconder


No mar e na vida nada se pode prever.(VM)


Os inúmeros caminhos da vida

Se não queremos ir naquela direcção,
caminhamos por caminhos paralelos.
Se não queremos ir contra o coração,
temos de caminhar lado a lado.

Os inúmeros caminhos da vida,
queremos percorrer sem partir,
seguimos dia após dia,
para podermos lutar e sentir...(VM)





Escolha de amigos - Oscar Wilde

"(...)Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e a outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.(...)"




terça-feira, 7 de maio de 2013

Se tudo o que sorri fica lá longe, vamos ser felizes mais perto...

Se eu tivesse asas voava sem parar,
assim voo cá dentro.
Como um balão que flutua no ar,
porque é assim que voa o pensamento.

No céu não existem fronteiras,
tudo é grandioso e inalcançavél.
É o ser humano que cria as barreiras,
que só o sonho pode derrubar.

Se tudo o que sorri fica lá longe,
vamos ser felizes mais perto...(VM)


Sonhos - Florbela Espanca

Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir…
Que se sonhasse a chorar…
Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca… um lamento…
Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
Despedaçar esses laços!…
…É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Se eu pudesse dançava na lua...

Se eu pudesse dançava na lua,
rodopiava nos sonhos.
Se eu pudesse adormecia na rua,
e fugia de tudo que me assombra.

Se eu pudesse agarrava as estrelas,
e ficava pra mim com aquele brilho.
Se eu pudesse abraçava o mundo,
e corria em direcção ao infinito.

Se não posso ser, sonho com o que seria,
se não posso ter, sonho com o que teria.
Enquando puder ter sonhos serei aquilo que sonhar...(VM)




domingo, 5 de maio de 2013

Poema da Noite - Charles Chaplin

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.



Passado, Presente e Futuro...

Estou presa em mim mesma,
refém do que sinto e do que penso.
Hoje penso que não vou sentir,
amanhã já sinto que não vou pensar.

No passado pensei mais do que senti,
no presente sinto o passado que não posso mudar.
Quanto ao futuro sinto que posso pensar diferente,
pensar e sentir tudo como nunca pensei ou senti.

Se nos condenamos por um passado que já foi,
porque não nos podemos libertar por um futuro que ainda está por vir?!(VM)



E mesmo sem querer vou dizendo aquilo que nunca diria...

Digo sempre o que não sinto,
e sinto sempre o que não me atrevo a dizer.
Isto era exactamente aquilo que eu não queria dizer,
e mesmo assim digo não querendo.

O que eu realmente sinto fica nas entre linhas,
de forma subjectiva, sem cor.
Mostro exactamente o que não sou,
o outro lado que de repente se pode tornar o lado certo.

Eu não sou aquilo que digo
e nem sempre digo aquilo que sou.
E mesmo sem querer vou dizendo aquilo que nunca diria... (VM)


Palavras para a Minha Mãe - José Luis Peixoto

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

 

Embora os meus olhos sejam... António Aleixo

Embora os meus olhos sejam
os mais pequenos do mundo
o que importa é que eles vejam
o que os homens são no fundo

Que importa perder a vida
na luta contra a traição
se a razão mesmo vencida
não deixa de ser razão

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo
calai-vos que pode o povo
querer um mundo novo a sério

Eu não tenho vistas largas
nem grande sabedoria
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Espuma dos dias que se perde

Estou descalça na areia fina,
o mar vai e vem.
Sou como as ondas revoltas,
sou água fria e cristalina.

Espuma dos dias que se perde,
realidade que teima em surgir.
O que a vida tira o sonho devolve,
como um cristal que cai sem se partir.

Tenho medo do que é profundo,
pavor da imensidão.
Tudo muda neste mundo,
brisa fresca em dia de Verão.(VM)